quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A Sociedade Mineradora


A corrida do ouro 



     O Brasil passou por sensíveis transformações em função da mineração. A partir da descoberta da mina de ouro por Antônio Rodrigues Arzão, anos seguintes, foram descobertas novas minas de ouro, como as de Vila Rica, hoje Ouro Preto.
     Assim que a notícia da mina de ouro se espalhou, afluíram ao sertão mineiro milhares de pessoas das mais diversas, atraídas pela ideia de enriquecimento fácil.
Imagem de J. M. Rugendas que retrata a mina de ouro.

Guerra dos Emboabas 

               

     Nos primeiros anos de mineração, ninguém se preocupava em plantar ou criar. Com isso a região, passou por várias crises de fome. Mas, com o tempo a população começou a plantar roças de milho e feijão e criar porcos e galinhas. E, usando o ouro como moeda, passou a comprar de outras regiões aquilo que necessitavam.
     A Guerra dos Emboabas foi um confronto travado de 1707 a 1709, pelo direito de exploração das recém-descobertas jazidas de ouro, na região das Minas Gerais, no Brasil. O conflito contrapôs, de um lado, os desbravadores vicentinos, grupo formado pelos bandeirantes paulistas, que haviam descoberto a região das minas e que por esta razão reclamavam a exclusividade de explorá-las; e de outro lado um grupo heterogêneo composto de portugueses metropolitanos e migrantes das demais partes do Brasil, sobretudo da Bahia, liderados por Manuel Nunes Viana. Os portugueses calçavam botas altas e por isso foram apelidados pelos paulistas de emboabas, palavra de origem tupi que significa “aves de pés emplumados”. Esse conflito terminou com a vitória dos emboabas. O líder emboaba, o comerciante português Manuel Nunes Viana, ficou aclamado governador, e a capitania do Rio de Janeiro foi separada da se São Paulo e Minas e para melhorar, controlar a população, o Governador fundou vilas nos povoados mais populosos.


Guerra dos Emboabas.




Com isso a Guerra dos Emboabas levou a sérias, nos quais:

· Regulamentação da distribuição de lavras entre emboabas e paulistas.

· Regulamentação da cobrança do quinto.

· Cisão da Capitania de São Vicente em Capitania de São Paulo e Minas de Ouro e Capitania do Rio de Janeiro, ligadas diretamente à Coroa em (03 de novembro de 1709).

· São Paulo deixa de ser vila, tornando-se cidade

· Acabam as guerras na região das minas, com a metrópole assumindo o controle administrativo da região.

· A derrota dos paulistas fez com que alguns deles fossem para o oeste onde, anos mais tarde, descobririam novas jazidas de ouro nos atuais estados do Mato Grosso do Sul, Matos e Goiás.

· A produção de ouro após o fim da guerra aumenta de tal modo via migração, que Minas Gerais tornam-se a região mais rica do Brasil da época.


Controle sobre o ouro


  

     Iniciada a mineração, o rei de Portugal criou a Intendência das Minas um órgão encarregado de controlar a exploração do ouro, cobrar impostos e julgar crimes praticados na região. Passada a fase inicial da exploração do ouro, passou-se a investir em novas técnicas de extração.


Impostos


     A Intendência criou e cobrava pesados impostos: impostos sobre homens livres e escravizados, sobre tecidos, ferramentas, genros agrícolas e, é claro, sobre o ouro. Tendo o mais importante deles foi o quinto Quinto (era um imposto cobrado pela Coroa portuguesa sobre o ouro encontrado em suas colônias; correspondia a 20% do metal extraído e era registrado em "certificados de recolhimento" pelas casas de fundição). A cobrança era feita, sobretudo, nas estradas que ligavam Minas Gerais ao Rio de Janeiro, a São Paulo e à Bahia, sempre policiadas por soldados (dragões do Regimento das Minas).


Imagem de J. M. Rugendas, onde vê-se a representação de uma lavra,  um tipo de exploração de ouro feitas em grandes jazidas com mão de obra escrava 



Revolta de Vila Rica 


    O contrabando de ouro aumentava, e o governo português apertava o cerco. Para dificultar o desvio, em 1719 criou as Casas de Fundição, locais onde o ouro era transformado em barras, selado e quitado. Das casas de Fundição, o ouro seguia para a Provedoria da Fazenda Real, de onde era levado para o Rio de Janeiro.
Barra de ouro quitado, 1811



   A criação das casas de fundição aumentou a insatisfação das pessoas, e acabou ocasionando uma revolta em Vila Rica, em 1720. As principais exigências dos rebeldes foram:

· A redução do preço dos alimentos;
· A anulação do decreto que criava as casas de fundição.

     Liderada por Filipe dos Santos, a revolta contou com a participação de vários integrantes do povo (principalmente pessoas mais pobres e da classe média de Vila Rica). Os revoltosos pegaram em armas e ocuparam alguns pontos de Vila Rica. Após chamar os revoltosos para negociar, o governador ordenou a prisão de todos que participaram da revolta. Para aumentar seu controle sobre a Colônia, o rei separou Minas Gerais de São Paulo, criando em 1720 a capitania de Minas Gerais.



Representação da morte de Felipe Santos.


O controle sobre os diamantes 





      No Arraial do Tijuco, assim que o rei soube da existência de diamantes, mandou expulsar os antigos moradores do local, dividiu as terras em lotes, separou para si o lote em que havia uma grande mina e leiloou os demais entre os homens brancos da região. Para administrar e policiar a área criou a Intendência dos Diamantes. Em 1739, o rei de Portugal arrendou a extração de diamantes a contratadores – homens que recebiam o direito de explorar as valiosas pedras em troca de uma parte da riqueza. Posteriormente, em 1771, o governo português acusou os contratadores de enriquecimento elícito e reassumiu o controle total sobre os diamantes.


A sociedade mineradora



     A população de Minas Gerais, em 1776, era composta de 70.169 brancos, 82.000 pardos e 167.000 negros. Observe o gráfico:





Os ricos



     Na região mineradora, as maiores fortunas pertenciam quase sempre aos grandes comerciantes, e não aos donos de minas. Os tropeiros, homens que comerciavam mulas, cavalos e gado de corte, também conseguiram prosperar, chegando a se destacar na sociedade mineira.     Já entre os donos de minas, foram poucos ao que enriqueceram. O motivo é simples: boa parte do que ganhavam servia ao pagamento de impostos ou eram gastos com a compra de mão de obra e de artigos importados como ferramentas, vinhos, tecidos, trigo, queijos e doces.


As camadas médias


     Em Minas Gerais, no século XVIII, houve um crescimento também das camadas médias: artesãos, profissionais liberais, padres, garimpeiros, donos de vendas e roceiros.


Gravura de Charles Landseer retrata tropeiro descansando junto à sua carga.


Os homens livres pobres


      Nas capitanias do ouro vivia também um grande numero de homens livres pobres. Eles perambulavam pelos arraiais pedindo esmola e comida, brigando nas vendas ou praticando pequenos furtos; moravam em casebres que dividiam com outros marginalizados ou com mulheres igualmente pobres. No qual serviam para as autoridades para fazer serviços pesados ou perigosos.





Os escravizados


            

    O dia a dia dos escravizados nas regiões mineiras era particularmente difícil. Não realizavam tarefas ligadas à mineração. Também transportavam mercadorias e pessoas, construíam estradas, casas e chafarizes, comerciavam pelas ruas e lavras.

     Como se vê, a sociedade do ouro premiou a poucos e castigou a maioria. Os habitantes da Minas, porem, não se calaram diante da escravidão, da pesada rede de impostos e de outras violências a que foram submetidos. Resistiam a tudo isso desobedecendo em silêncio, promovendo revoltas, desviando ouro e diamantes, reclamando à Justiça, fugindo para a mata e formando quilombos.
Quadro de Tarsila do Amaral que mostra escravos trabalhando na mineração.